Amava aquele pão de queijo daquela padaria, não só o pão de queijo, mas
o croissant também, e todos os recheios com goiabada. Fui lá só pelo pão de
queijo. Estava chovendo, aquela chuva que a gente vê os pingos caindo pelo
para-brisa, traçando em linha reta, com algumas curvas, como se fosse as nossas
vidas, sempre chegando ao fim. Estacionei o carro bem em frente à padaria, não
ia demorar muito. Deixei o rádio ligado. Pisoteei no tapete de boas vindas para
secar minhas botas novas e não molhar o lugar com água suja da calçada. Abri a
porta pensando no pão de queijo. Olhei pra atendente de piercing no umbigo, dei
boa tarde, ela só mascou o chiclete como resposta. E quando virei para as
prateleiras buscando cegamente o pãozinho, eis que paraliso. De relance vejo os
cabelos morenos levemente molhados, era ele. O meu primeiro beijo, o meu
primeiro amor. Nunca esqueci aquelas mãos, aqueles olhos. O rosto já sem
espinhas e mais branco, sorriu com os lábios secos, formando rugas nas
bochechas coradas. Paralisei. Senti como se tivesse 13 anos, no dia de sol, em
frente ao colégio. Perguntou como eu estava, porém não tive vontade de
responder, só de olhar pra ele. Mas como é de praxe, respondi que estava bem e
perguntei se ele também estava. Respondeu que sim, deu um suspiro como se
quisesse falar alguma coisa, nesse momento fiquei esperando ansiosa, mas só
recebi os vinte e cinco centavos do troco e segui em direção à porta, devagar,
lutando pra por a moeda na bolsa, não querendo ir. Ele ficou lá, escolhendo qual pastel levar.
Então nada aconteceu, entrei no carro, e fui pra casa sozinha. Pensei que nessa
tarde minha vida poderia mudar. Mas foi só um “acho que vai...” desses que
esperamos mais em um sábado à noite.
V, M.