6 de abr. de 2014

♡ O Esperado Final do Dia

  Amava aquele pão de queijo daquela padaria, não só o pão de queijo, mas o croissant também, e todos os recheios com goiabada. Fui lá só pelo pão de queijo. Estava chovendo, aquela chuva que a gente vê os pingos caindo pelo para-brisa, traçando em linha reta, com algumas curvas, como se fosse as nossas vidas, sempre chegando ao fim. Estacionei o carro bem em frente à padaria, não ia demorar muito. Deixei o rádio ligado. Pisoteei no tapete de boas vindas para secar minhas botas novas e não molhar o lugar com água suja da calçada. Abri a porta pensando no pão de queijo. Olhei pra atendente de piercing no umbigo, dei boa tarde, ela só mascou o chiclete como resposta. E quando virei para as prateleiras buscando cegamente o pãozinho, eis que paraliso. De relance vejo os cabelos morenos levemente molhados, era ele. O meu primeiro beijo, o meu primeiro amor. Nunca esqueci aquelas mãos, aqueles olhos. O rosto já sem espinhas e mais branco, sorriu com os lábios secos, formando rugas nas bochechas coradas. Paralisei. Senti como se tivesse 13 anos, no dia de sol, em frente ao colégio. Perguntou como eu estava, porém não tive vontade de responder, só de olhar pra ele. Mas como é de praxe, respondi que estava bem e perguntei se ele também estava. Respondeu que sim, deu um suspiro como se quisesse falar alguma coisa, nesse momento fiquei esperando ansiosa, mas só recebi os vinte e cinco centavos do troco e segui em direção à porta, devagar, lutando pra por a moeda na bolsa, não querendo ir.  Ele ficou lá, escolhendo qual pastel levar. Então nada aconteceu, entrei no carro, e fui pra casa sozinha. Pensei que nessa tarde minha vida poderia mudar. Mas foi só um “acho que vai...” desses que esperamos mais em um sábado à noite. 


V, M.